A morte de Papa Francisco, em 21 de abril de 2025, marcou um evento de grande repercussão mundial. Seu legado ultrapassa o âmbito religioso, influenciando debates sobre direitos humanos, meio ambiente, migrações e inclusão social  — temas frequentemente cobrados na redação do Enem.

Para você que é estudante, entender a trajetória do Papa Francisco é uma excelente maneira de enriquecer o repertório sociocultural, além de fortalecer os argumentos em temas como liderança ética, cidadania global e o papel das instituições religiosas na sociedade atual.

Quem foi Papa Francisco?

Papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, foi o 266º papa da Igreja Católica, o primeiro pontífice da América Latina e o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.

Filho de imigrantes italianos, cresceu em uma família de classe média e, antes de seguir a vocação religiosa, formou-se como técnico químico. Entrou para a Companhia de Jesus em 1958, sendo ordenado padre em 1969. Sua trajetória antes do papado incluiu cargos como provincial dos jesuítas na Argentina e arcebispo de Buenos Aires, onde ficou conhecido por sua humildade, como usar transporte público e viver em um apartamento simples.

Em março de 2013, após a histórica renúncia de Bento XVI, Bergoglio foi eleito papa, adotando o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, santo associado à simplicidade e ao cuidado com os pobres e a natureza. Sua escolha marcou o início de um pontificado voltado à renovação da Igreja Católica, com ênfase em uma postura mais inclusiva, dialogante e alinhada aos desafios do século XXI.

Eleito papa em março de 2013, após a renúncia de Bento XVI, Bergoglio adotou o nome Francisco, inspirado em São Francisco de Assis, símbolo de simplicidade, cuidado com os pobres e amor pela natureza.

Sua escolha sinalizou um pontificado voltado à renovação da Igreja, com ênfase em inclusão, diálogo inter-religioso e enfrentamento de desafios globais. Até sua morte em 21 de abril de 2025, vítima de um AVC e parada cardíaca após uma internação por pneumonia dupla, Francisco transformou a imagem do Vaticano, tornando-o mais próximo das questões sociais e menos preso a tradições rígidas.

Principais marcos de sua vida e pontificado

Papa Francisco redefiniu o papado com gestos e posicionamentos que aproximaram a Igreja Católica dos debates contemporâneos. Seus 12 anos de liderança foram marcados por ações que ressonam com os valores de justiça, empatia e sustentabilidade, tornando seu legado uma ferramenta valiosa para a redação do Enem.

A mudança na imagem da Igreja

Ao assumir o papado, Francisco rompeu com a imagem tradicional de pompa associada ao Vaticano. Sua decisão de viver na Casa Santa Marta, uma residência modesta, em vez do Palácio Apostólico, e de carregar sua própria mala em viagens simbolizou uma Igreja mais austera e acessível.

Gestos como lavar os pés de presos, incluindo muçulmanos e mulheres, durante a Quinta-Feira Santa, reforçaram sua mensagem de humildade e inclusão. Essa postura inspirou fiéis e não católicos, atraindo a simpatia de líderes globais e reforçando a ideia de uma liderança ética, um tema que pode ser explorado em redações sobre cidadania e responsabilidade social.

Migração e refúgio

Francisco foi um defensor incansável dos migrantes e refugiados, especialmente durante a crise migratória na Europa. Em 2016, visitou a ilha de Lesbos, na Grécia, e levou famílias sírias ao Vaticano, criticando políticas anti-imigração com a frase “construir pontes, não muros”.

Sua encíclica Fratelli Tutti (2020) enfatiza a fraternidade humana e a solidariedade com os excluídos, desafiando estruturas de poder que perpetuam a desigualdade. Essa visão é diretamente aplicável a temas do ENEM sobre mobilidade humana, xenofobia ou direitos humanos.

Crise ambiental e sustentabilidade

A encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, foi uma das principais contribuições do Papa Francisco para a discussão sobre meio ambiente e sustentabilidade.

Nessa carta, o Papa fez um chamado urgente à preservação do planeta e à responsabilidade social de todos para com a Terra, unindo fé e ciência em prol de uma ecologia integral que inclua o cuidado com a natureza e a promoção da justiça social.

A encíclica não só denuncia os impactos da exploração desenfreada dos recursos naturais e o aquecimento global, mas também propõe ações concretas para mitigar esses danos, como a redução de desigualdades e a inclusão das vozes mais vulneráveis nos processos de tomada de decisão. O papel das gerações futuras também é destacado, convidando todos a pensar em sustentabilidade intergeracional.

Direitos das minorias e inclusão

Outra área de destaque foi o fortalecimento do diálogo inter-religioso. O Papa Francisco tem sido um grande defensor do diálogo com outras religiões, especialmente com o judaísmo e o islã. Em 2016, ele realizou uma histórica visita ao Cairo, onde se encontrou com o líder da Irmandade Muçulmana e com o Grande Imam de Al-Azhar, com quem assinou uma importante declaração sobre a fraternidade humana e a condenação do terrorismo.

Sua postura é um reflexo de sua crença de que a paz e o entendimento mútuo só podem ser alcançados por meio do diálogo e da colaboração entre as diversas religiões e culturas. Isso reflete a visão de que a Igreja Católica deve ser uma força de unidade e reconciliação, em vez de ser um ponto de divisão.

Esse desejo de acolhimento também se refletiu em suas abordagens sobre a família e questões de identidade sexual. Ao longo de seu papado, ele defendeu a inclusão das comunidades LGBTQIA+, buscando uma abordagem mais compassiva e menos condenatória. Embora a Igreja mantenha doutrinas tradicionais, Francisco demonstrou abertura para repensar a forma como a Igreja se relaciona com essas questões, convidando-a a adotar uma postura mais acolhedora, que respeite a dignidade humana e promova o amor cristão.

Simplicidade e ruptura com o conservadorismo

Francisco desafiou o conservadorismo católico ao criticar a “globalização da indiferença” e o capitalismo desenfreado, como na Evangelii Gaudium (2013).

Suas reformas, como a simplificação dos rituais fúnebres papais em 2024, refletem sua visão de uma Igreja despojada. Mesmo após sua morte, sua influência persiste, com líderes mundiais e fiéis lamentando a perda de um “humanista que optou pelos pobres, pela paz e pela igualdade”.

Como usar esse conteúdo na Redação do ENEM?

O legado de Papa Francisco é um repertório sociocultural versátil para a redação do Enem, pois suas ideias se conectam a múltiplos eixos temáticos e atendem às competências avaliadas, como domínio da norma culta, compreensão do tema, seleção de repertório e proposta de intervenção. Abaixo, detalho como o papa e o papado podem ser abordados na prova, com exemplos práticos, citações e estratégias para diferentes temas.

Por que citar o Papa Francisco?

Citar Francisco demonstra repertório sociocultural (Competência 2), pois ele é uma autoridade reconhecida globalmente, cujas ideias são embasadas em documentos como Laudato Si’ e Fratelli Tutti.

Sua visão de liderança ética e cidadania ativa alinha-se à Competência 5, que exige uma proposta de intervenção respeitosa aos direitos humanos. Além disso, sua morte em 2025 torna seu legado um tema atual, reforçando a relevância dos argumentos.

Como aplicar o legado de Francisco

Sustentabilidade e meio ambiente

• Como usar: Cite a Laudato Si’ para discutir a relação entre consumismo e degradação ambiental. Combine com dados sobre desmatamento na Amazônia e proponha incentivos à economia circular como intervenção.
• Citação sugerida: “Não podemos permitir que certos interesses, que são globais, mas não universais, se imponham, submetendo os mais pobres.” (Laudato Si’)
• Exemplo: “Como alerta Papa Francisco em Laudato Si’, a exploração desenfreada dos recursos naturais compromete a ‘casa comum’, exigindo ações coletivas para uma ecologia integral.”

Mobilidade humana e direitos humanos

• Como usar: Use a frase “construir pontes, não muros” para argumentar contra a xenofobia e a favor de políticas de acolhida. Relacione com a Fratelli Tutti, que defende a fraternidade humana. Proponha a ampliação de programas de integração, como cursos de língua portuguesa para refugiados.
• Citação sugerida: “Cada migrante tem um rosto, uma história e um nome.” (Fratelli Tutti)
• Exemplo: “Papa Francisco, em Fratelli Tutti, destaca a solidariedade como base para superar a exclusão de migrantes, um princípio que pode guiar políticas públicas inclusivas.”

Desigualdade social

• Como usar: Refira-se à crítica de Francisco ao capitalismo desenfreado na Evangelii Gaudium. Sugira políticas de redistribuição, como a expansão do Bolsa Família.
• Citação sugerida: “Não podemos confiar no ‘derramamento’ cego e espontâneo da riqueza produzida por poucos.” (Evangelii Gaudium)
• Exemplo: “Papa Francisco alerta que a ‘globalização da indiferença’ perpetua desigualdades, um fenômeno visível no Brasil, onde a concentração de renda impede o acesso à educação e saúde.” 

Tolerância religiosa e diversidade

• Como usar: Mencione o Documento sobre a Fraternidade Humana e o encontro de Francisco com líderes muçulmanos. Proponha campanhas educativas nas escolas para promover o respeito à diversidade religiosa.
• Citação sugerida: “A verdadeira fraternidade exige que reconheçamos a dignidade de cada pessoa, independentemente de sua fé.” (Fratelli Tutti)
• Exemplo: “Papa Francisco, ao assinar o Documento sobre a Fraternidade Humana, reforça que o diálogo inter-religioso é essencial para a paz, um modelo aplicável ao Brasil, onde a intolerância religiosa persiste.” 

Liderança ética e cidadania

• Como usar: Destaque a simplicidade de Francisco como exemplo de liderança ética. Proponha a criação de conselhos comunitários para fiscalizar gestões públicas.
• Citação sugerida: “Um bom líder é aquele que serve, não aquele que se serve.” (Discurso de Francisco, 2015)
• Exemplo: “Papa Francisco, ao rejeitar os luxos do Vaticano, demonstrou que a liderança ética prioriza o bem comum, um princípio que pode inspirar políticas públicas voltadas à transparência.” 

Questões do Enem sobre Igreja e papado

As questões do Enem sobre a Igreja Católica e o papado exploram a influência dessas instituições na sociedade, abordando temas como poder, ética e transformações sociais. A seguir, apresentamos questões com gabarito para ajudar no seu treino sobre esses tópicos:

Questão 1 (Enem 2020)

Dois grandes eventos históricos tornaram possível um caso como o de Menocchio: a invenção da imprensa e a Reforma. A imprensa lhe permitiu confrontar os livros com a tradição oral em que havia crescido e lhe forneceu as palavras que nele conviviam. A Reforma lhe deu audácia para comunicar o que pensava ao padre do vilarejo, conterrâneos, inquisidores — mesmo não tendo conseguido dizer tudo diante do papa, dos cardeais e dos príncipes, como queria.

GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.

Os acontecimentos históricos citados ajudaram esse indivíduo, no século XVI, a repensar a visão católica do mundo ao possibilitarem a:

a) consulta pública das bibliotecas reais.
b) sofisticação barroca do ritual litúrgico.
c) aceitação popular da educação secular.
d) interpretação autônoma dos textos bíblicos.
e) correção doutrinária das heresias medievais

Questão 2 (Enem 2021)

No início do século XVI, as relíquias continuavam protegendo edifícios e cidades, promovendo curas milagrosas, sendo levadas em solenes procissões pelas ruas, sacralizando altares de igrejas por toda a Europa, em uma notável continuidade em relação ao papel que haviam desempenhado havia mais de mil anos no continente. Mas, em meados daquele século, essa situação tinha se transformado. O culto às relíquias foi fortemente repudiado pelos reformadores protestantes, que pregavam uma igreja invisível.

CYMBALISTA, R. Relíquias sagradas e a construção do território cristão na Idade Moderna. Anais do Museu Paulista, n. 2, jul.-dez. 2006.

A nova abordagem sobre a prática indicada no texto fundamentava-se no(a):

a) abandono de objetos mediadores.
b) instituição do ascetismo monástico.
c) desprezo do proselitismo religioso.
d) revalorização dos ritos sacramentais.
e) consagração de preceitos populares.

Questão 3 (Enem 2019)

Saudado por centenas de militantes de movimentos sociais de 40 países, o Papa Francisco encerrou no dia 09/07/2018 o 2.º Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Segundo ele, “a globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”.

Disponível em: http://cartamaior.com.br. Acesso em: 15 jul. 2015 (adaptado).

No texto há uma crítica ao seguinte aspecto do mundo globalizado:

a) Liberdade política.
b) Mobilidade humana.
c) Conectividade cultural.
d) Disparidade econômica.
e) Complementaridade comercial.

GABARITO: 1) D. 2) A. 3) D.