Dia Mundial do Livro: 5 leituras essenciais para quem vai prestar vestibular

No Dia Mundial do Livro, descubra 5 obras essenciais que ampliam repertório e desenvolvem pensamento crítico para o vestibular.

O Dia Mundial do Livro é um convite para celebrar o poder transformador da leitura — especialmente para quem está se preparando para o vestibular. Mais do que uma ferramenta para enriquecer o vocabulário ou mandar bem na redação, os livros são pontes para novas ideias, mundos e perspectivas. Eles ampliam o repertório sociocultural, desenvolvem o pensamento crítico e despertam a empatia — habilidades fundamentais para enfrentar as provas mais concorridas do país.

Por isso, selecionamos 5 obras que dialogam com temas atuais e históricos, oferecendo novas lentes para compreender o mundo e a si mesmo. Essas leituras podem inspirar argumentos, fortalecer sua análise e tornar sua preparação mais rica e significativa.

Por que ler no Dia Mundial do Livro?

Porque esse é o momento perfeito para lembrar que estudar não precisa ser só sobre apostilas e simulados. No Dia Mundial do Livro, vale (e muito!) abrir espaço para leituras que provocam, emocionam e ampliam o olhar sobre o mundo. Histórias que te ajudam a escrever melhor, sim, mas também a pensar com mais profundidade, interpretar com mais sensibilidade e argumentar com mais consistência.

Entre uma questão e outra, deixar-se atravessar por um bom livro pode ser o diferencial que transforma o seu estudo em algo realmente transformador.

Ponciá Vicêncio – Conceição Evaristo

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Ponciá Vicêncio é uma obra fundamental da literatura afro-brasileira contemporânea. Escrita por Conceição Evaristo, autora que cunhou o termo “escrevivência” para definir sua escrita enraizada em vivências de mulheres negras, o livro oferece uma poderosa reflexão sobre identidade, memória e os impactos persistentes da escravidão na sociedade brasileira.

A protagonista, Ponciá, é uma mulher negra que migra do campo para a cidade em busca de melhores condições de vida, mas se depara com a dureza do trabalho precário, o apagamento da própria história e o racismo estrutural. Ao mesmo tempo em que narra essa trajetória, a autora constrói uma linguagem poética e sensível, que mistura tempo presente, passado e memória ancestral.

Para quem está se preparando para o vestibular: Ponciá Vicêncio oferece uma rica fonte de repertório sobre questões raciais, sociais e históricas — temas que aparecem com frequência nas redações e nas provas de ciências humanas. Além disso, a linguagem lírica da autora também pode inspirar reflexões importantes sobre o papel da literatura como ferramenta de resistência.

Citação marcante

“Compreendera que sua vida, um grão de areia lá no fundo do rio, só tomaria corpo, só engrandeceria, se se tornasse matéria argamassa de outras vidas. Descobria também que não bastava saber ler e assinar o nome. Da leitura era preciso tirar outra sabedoria. Era preciso autorizar o texto da própria vida, assim como era preciso ajudar construir a história dos seus. E que era preciso continuar decifrando nos vestígios do tempo os sentidos de tudo que ficara para trás. E perceber que por baixo da assinatura do próprio punho, outras letras e marcas havia. A vida era um tempo misturado do antes-agora-depois-e-do-depois-ainda. A vida era a mistura de todos e de tudo. Dos que foram, dos que estavam sendo e dos que viriam a ser.”

― Conceição Evaristo

Niketche: Uma História de Poligamia – Paulina Chiziane

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Niketche é um romance que mergulha nas complexas estruturas das relações afetivas em Moçambique, onde tradição e modernidade se entrelaçam. A protagonista, Rami, descobre que seu marido mantém outras mulheres em diferentes regiões do país. O que poderia se transformar em uma disputa entre esposas, torna-se uma aliança poderosa entre elas — um gesto de resistência e transformação diante de um sistema patriarcal enraizado.

A narrativa de Paulina Chiziane é marcada por um estilo que mistura oralidade e crítica social, trazendo à tona o universo feminino em sua diversidade, suas dores e suas potências. Ao abordar a poligamia não apenas como uma prática cultural, mas como um sintoma de desigualdades estruturais, o livro oferece uma reflexão profunda sobre os papéis de gênero, autonomia e identidade em um contexto africano.

Para quem está se preparando para o vestibular: Niketche oferece um repertório internacional, com uma perspectiva pós-colonial pouco explorada nos materiais didáticos convencionais. Além disso, propõe um olhar ampliado sobre a condição feminina e as formas de resistência, temas que dialogam diretamente com os desafios contemporâneos.

Sobre a autora

Paulina Chiziane nasceu em 1955, em Manjacaze, Moçambique, e é considerada uma das vozes mais importantes da literatura africana de língua portuguesa. Foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance — justamente Niketche, em 2002. Sua obra é marcada pela crítica ao colonialismo, à opressão de gênero e às estruturas de poder que atravessam a sociedade africana, sempre com um olhar atento à oralidade e às tradições locais. Em 2021, foi laureada com o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa.

Citação marcante

“Até na bíblia a mulher não presta. Os santos, nas suas pregações antigas, dizem que a mulher nada vale, a mulher é um animal nutridor de maldade, fonte de todas as discussões, querelas e injustiças. É verdade. Se podemos ser trocadas, vendidas, torturadas, mortas, escravizadas, encurraladas em haréns como gado, é porque não fazemos falta nenhuma. Mas se não fazemos falta nenhuma, por que é que Deus nos colocou no mundo? E esse Deus, se existe, por que nos deixa sofrer assim? O pior de tudo é que Deus parece não ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa — sua esposa — intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é, de certeza, a cozinha celestial.”

― Paulina Chiziane

O Avesso da Pele – Jeferson Tenório

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O Avesso da Pele é um romance intenso e sensível que discute o racismo estrutural no Brasil a partir da relação entre pai e filho. Narrado por Pedro, um jovem negro que tenta reconstruir a história de seu pai — assassinado pela polícia — o livro é uma jornada de memória, dor e descoberta.

A obra revela como o racismo atravessa gerações e molda experiências pessoais, afetando desde o acesso à educação até a forma como os corpos negros são percebidos pela sociedade. Ao mesmo tempo, mostra o poder da educação e da palavra como instrumentos de resistência e reconstrução da identidade.

Para quem está se preparando para o vestibular: O Avesso da Pele é uma leitura essencial para refletir sobre temas urgentes do Brasil contemporâneo, como desigualdade racial, violência policial e o papel da literatura na construção de memórias silenciadas. Uma obra que oferece densidade emocional e um repertório crítico indispensável.

Sobre o autor

Jeferson Tenório nasceu no Rio de Janeiro em 1977, mas construiu sua carreira em Porto Alegre. É doutorando em teoria literária e professor de literatura, além de ser uma das principais vozes da nova literatura brasileira. Com O Avesso da Pele, venceu o Prêmio Jabuti de Melhor Romance Literário em 2021, consagrando-se como um autor que traduz com profundidade a experiência negra no Brasil e seus desdobramentos sociais e subjetivos.

Citação marcante

“Após anos de magistério, a escola transformou você num indiferente. Com o passar do tempo o desencanto tomou conta da sua vida. A escola e os anos de prática docente te transformaram num operário. Anos e anos acreditando que você estava fazendo algo de significativo, mas vieram outros anos e anos e soterraram suas expectativas. A precariedade da escola venceu, e você estava cansado.”

― Jeferson Tenório

Persépolis – Marjane Satrapi

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Persépolis é uma autobiografia gráfica que narra a infância e adolescência de Marjane Satrapi durante e após a Revolução Islâmica no Irã. Com traços simples em preto e branco, a autora constrói uma narrativa poderosa sobre repressão, identidade, liberdade e amadurecimento em meio a um dos momentos mais turbulentos da história do Oriente Médio.

O contraste entre o olhar infantil e os acontecimentos políticos brutais cria um efeito emocional forte e permite compreender, de forma acessível e profunda, como regimes autoritários impactam a vida cotidiana das pessoas — especialmente das mulheres. A história também revela o dilema de viver entre culturas diferentes, quando Marjane se exila na Europa, e a luta constante para manter sua voz em ambientes que tentam silenciá-la.

Para quem está se preparando para o vestibular: Persépolis oferece uma leitura dinâmica, visualmente envolvente e cheia de conteúdo histórico e social. A obra é ideal para ampliar o repertório sobre temas como direitos humanos, intolerância religiosa, colonialismo cultural e o papel das mulheres em sociedades patriarcais. Além disso, o formato em quadrinhos pode mostrar como diferentes linguagens artísticas também são capazes de tratar temas densos com profundidade.

Sobre a autora

Marjane Satrapi nasceu em 1969, em Rasht, no Irã, e cresceu em Teerã. Com forte influência da cultura ocidental e vinda de uma família politicamente ativa, Satrapi vivenciou de perto as transformações drásticas que o país sofreu após a Revolução Islâmica. Mais tarde, se exilou na Áustria e depois se estabeleceu na França, onde publicou Persépolis em 2000. A obra se tornou um marco da literatura gráfica contemporânea e foi adaptada para o cinema, recebendo prêmios e elogios em todo o mundo.

Citação marcante

O regime entendeu que uma pessoa que sai de casa se pergunta:
Minhas calças estão compridas o suficiente?
Meu véu está no lugar?
Minha maquiagem pode ser vista?
Vão me chicotear?

Não se pergunta mais:
Onde está minha liberdade de pensamento?
Onde está minha liberdade de expressão?
Minha vida é suportável?

O que está acontecendo nas prisões políticas?

― Marjane Satrapi

O Olho da Rua – Eliane Brum

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O Olho da Rua é uma coletânea de grandes reportagens escritas por Eliane Brum, uma das mais respeitadas jornalistas brasileiras da atualidade. Longe do sensacionalismo ou da cobertura superficial, cada texto mergulha na vida de pessoas comuns em situações extraordinárias — sobreviventes, esquecidos, marginalizados — revelando com empatia e profundidade os dramas humanos que muitas vezes passam despercebidos.

A força do livro está na escuta. Brum se aproxima de seus personagens com sensibilidade e humanidade, fazendo do jornalismo uma ponte entre o individual e o coletivo, o íntimo e o social. São histórias reais que desafiam preconceitos, revelam desigualdades e expõem contradições do Brasil contemporâneo.

Para quem está se preparando para o vestibular: O Olho da Rua oferece um repertório sólido sobre temas sociais, direitos humanos, pobreza, violência urbana, saúde mental, entre outros. Além disso, serve como excelente exemplo de escrita jornalística de qualidade, com textos que combinam informação, emoção e reflexão crítica — habilidades cada vez mais exigidas nas redações dos principais exames.

Sobre a autora

Eliane Brum nasceu em Ijuí, no Rio Grande do Sul, em 1966. É jornalista, escritora e documentarista, com uma carreira marcada pelo compromisso ético e pela escuta atenta dos silenciados. Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais de jornalismo e literatura. Além de O Olho da Rua, publicou obras como A Vida que Ninguém Vê, Uma Duas e Brasil: Construtor de Ruínas. Em todos os seus trabalhos, Brum defende a palavra como ato político e o jornalismo como ferramenta de transformação social.

Citação marcante

Elas nasceram do ventre úmido da Amazônia, no extremo norte do Brasil, no Estado esquecido do noticiário chamado Amapá. O país não as escuta porque perdeu o ouvido para os sons do conhecimento antigo, para a música de suas cantigas. Muitas não conhecem as letras do alfabeto, mas são capazes de ler a mata, os rios e o céu. Emergiram dos confins de outras mulheres com o dom de pegar menino, adivinham a vida que se oculta nas profundezas.

― Eliane Brum

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Fonte: Blog do Enem