Leia o textos e observe a variedade linguística empregada nele.

O poeta da roça

Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola. à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos horne,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
ASSARÉ, Patativa do. Disponível em: .
Acesso em: 15 jul. 2013.

Interpretação do texto e responda.

1) Nesse poema, há o emprego de uma variante linguística própria de certas regiões nordestinas. Explique como o eu lírico, a voz que "fala" no poema, se apresenta para o leitor.

2) Por que o eu lírico não quer que o chamem de "menestrel"?

3) Ao falar da produção dos versos, o eu lírico se mostra conhecedor de seus limites.
> Por que ele caracteriza seu verso como "rastêro, singelo e sem graça"?

4) A partir da quinta estrofe, o eu lírico revela fatos que o inspiram na composição de seus versos. Que fatos são esses?

5) Na penúltima estrofe, a quem o eu lírico se refere quando diz que o mendigo "chora pedindo o socorro dos home"?

6) Explique o significado deste verso: "E assim, sem cobiça dos cofre luzente".

7) No poema em questão, a concordância de plural não ocorre em várias construções. Identifique no texto algumas delas.

8) Qual é o ambiente inspirador do poeta?

9) Há varias palavras no texto associadas ao universo da roça, do sertão. Cite algumas.

10) Qual é a atividade profissional desse eu poético?