As meninas [. ] – Que tempo – resmungou se sacudindo no vestíbulo do casarão. – Lia? É você, Lia? – perguntou Madre Alix abrindo a porta do seu gabinete. – Entre um instante, filha. Sente-se. Aqui ao meu lado. Quer tomar um café? Foi feito há pouco, vê se está bom de açúcar. Lia deixou a sacola e o livro no chão. Sorriu [. ]. – Insônia, Madre Alix? – Não, muito trabalho. Mas que beleza de gorro. – Não é mesmo? Presente de um amigo. – Prendendo assim o cabelo você fica com cara de marujo [. ], você tem os olhos de seu pai. – Foi o que falou meu amigo, cara de marinheiro – digo tomando o café. Quente demais. Doce demais. – A senhora recebeu carta da minha mãe? – Uma longa carta. Gosto muito da sua mãe. Fico olhando o relógio em formato de oito, dependurado na parede caiada de branco. O som também é antigo. – Na minha casa tem um relógio igual. – Você tem saudade, Lia? – Não sei explicar, mas lá é como este café adocicado e quente. Minha mãe chegava a me abafar com tanto amor, preferia às vezes que me amasse menos. O velho disfarçando com carrancas, tios e tias estourando por todos os lados com os batalhões dos primos. Aconchegos, festinhas. Lembro-me de todos, amo todos, mas não tenho vontade de voltar. Isso é saudade? Foi um período que se encerrou. Aqui começou outro e agora vai começar um terceiro período e então fico com esses dois períodos pra lembrar. Será saudade? – Acho que sim. Quando noviça, eu pensava muito na minha gente. Sabia que não ia voltar, mas continuava pensando com tanta força. Como quando se tira um vestido velho do baú, um vestido que não é para usar, só para olhar. Só para ver como ele era. Depois a gente dobra de novo e guarda, mas não se cogita em jogar fora ou dar. Acho que saudade é isso. [. ] TELLES, Lygia Fagundes. As meninas. São Paulo: Companhia das Letras. 2009. Qual é o trecho desse texto que mostra o local em que essa história acontece? "– Lia? É você, Lia? – perguntou Madre Alix abrindo a porta do seu gabinete